VIVÊNCIA E CIÊNCIA EM PLANTAS MEDICINAIS

Conhecimento adquirido pela experiência e transmitido através de gerações traz ensinamentos e recebe contribuições da ciência em projeto do CPQBA/Unicamp.

Por Gustavo Steffen de Almeida

O conhecimento sobre plantas medicinais é uma daquelas áreas onde a ciência e os saberes tradicionais se misturam e se complementam. Muitas das aplicações que a ciência, através de modernas pesquisas, descobriu para as plantas medicinais são baseadas no conhecimento que, de geração em geração, foi passado. Desde o tempo em que “não se usava remédio de farmácia” até hoje, as práticas de medicina popular com ervas, raízes e folhas continuam exercendo merecido espaço.

Para evitar que tão rico conhecimento seja perdido – em meio à uma época onde poucas vezes se tem tempo e disponibilidade para escutar e aprender coisas que só a experiência pode ensinar – a ciência resolveu depositar mais atenção nesse potencial. A chamada Etnobotânica é o campo científico onde os conhecimentos tradicionais sobre as plantas e a ciência moderna tem espaço para conversar e contribuir um com o outro.

Tendo isso em mente, o Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA/Unicamp) vem, desde 1999, realizando um projeto de extensão universitária   para desenvolver atividades relacionadas ao cultivo e manutenção de espécies medicinais que tem como público-alvo a comunidade da terceira idade da cidade de Paulínia-SP.

O objetivo inicial era o de promover a troca dos saberes entre participantes e pesquisadores no que diz respeito às plantas medicinais e aromáticas e conscientizar a respeito dos benefícios dos fitoterápicos e precauções necessárias para fazer seu uso correto evitando possíveis riscos à saúde. Desde 2015, tendo o projeto recebido o nome “Aprendendo a Transformar Plantas Medicinais em Fitoterápicos Seguros”, foi incorporada às atividades a prática de laboratório, com a intenção de apresentar às participantes o ambiente científico e as pesquisas interdisciplinares com as plantas e seus componentes químicos. Além da vivência e do aprendizado sobre as técnicas essenciais de laboratório – treinamentos de segurança e boas práticas incluídos – a ideia era fornecer às integrantes do grupo um panorama de como se dá o processo de obtenção de um novo produto fitoterápico e quais são as etapas envolvidas.

De acordo com Glyn Mara Figueira, pesquisadora da Divisão de Agrotecnologia do CPQBA e membro da equipe realizadora do projeto, na parte de campo é mostrado como se faz a identificação botânica de uma planta, além de ensinadas técnicas de coleta de sementes e semeadura, desbaste, estaquia, coleta de folhas, cuidados com secagem, entre outras.  “São vários aspectos, desde o início da planta até o seu uso, que são abordados e compartilhados”, comenta. Figueira ressalta também o caráter interdisciplinar das pesquisas com plantas medicinais realizadas no CPQBA, que é enfatizado nas atividades com o grupo.

Aprendizado com mão-na-massa

Aliando teoria e prática, o curso possibilitou que as participantes trabalhassem e elaborassem seus próprios produtos fitoterápicos – cosméticos e medicinais. Os produtos obtidos foram, como recompensa pelo trabalho, repartidos dentro do grupo e levados para casa. Pomada cicatrizante, xarope antitussígeno, repelente de insetos, sabonetes, loções e uma variedade de outras formulações foram testados e aprovados pelas orgulhosas participantes (veja aqui o vídeo).

“Com esse projeto a gente quis salientar os pontos benéficos da utilização de fitoterápicos, mas também alertá-los e conscientizá-los sobre os possíveis riscos envolvidos em sua administração”, pondera Marili Villa Nova Rodrigues, Pesquisadora da Divisão de Química Orgânica e Farmacêutica do CPQBA e coordenadora do projeto. Segundo a pesquisadora, estes riscos podem estar relacionados com algumas interações medicamentosas não desejadas, assim como com a aquisição de matéria-prima sem qualidade, em locais não adequados.  Os pesquisadores buscaram, no decorrer das atividades, reforçar aos idosos a necessidade de se tratar um medicamento fitoterápico com a mesma seriedade de um medicamento tradicional, “sempre passando para elas a importância de se prevenir às doenças e evitar uma auto-medicação”, conclui Rodrigues.

O projeto, pioneiro em inserir atividades voltadas à terceira idade na universidade, foi novamente aprovado no edital PEC-PREAC 2016, da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp (PREAC), tendo recebido críticas muito positivas por parte do pró-reitor, Dr. João Frederico Meyer. No evento de encerramento da edição 2016, Meyer disse ser um privilégio para a Unicamp poder contar com esse projeto, que cumpre com o preceito central da extensão universitária: “colocar a ciência a serviço da sociedade”.